quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Caía a tarde ou caía à tarde?

São muito conhecidos os versos que dão início à canção "O Bêbado e a Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc. É difícil encontrar quem já não os tenha cantarolado: "Caía a tarde feito um viaduto/ E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos...".
Neste espaço, esses versos suscitam uma questão gramatical: afinal, ocorre crase no "a" da expressão "a tarde"? A resposta é negativa. Ocorre a crase quando dois "as" se encontram. Nos versos transcritos acima, ocorre apenas o artigo "a", pois "a tarde" é o sujeito da forma verbal "caía", ou seja, é a ela que se refere a ação de "cair".
Caso o período fosse "Pela manhã, chegava e, à tarde, caía fora", aí sim, o emprego do acento grave (indicador da ocorrência de crase) seria necessário. O fenômeno da fusão de duas vogais, que se chama "crase" (do grego "Krâsis"), dá-se nas locuções adverbiais introduzidas por uma preposição "a" seguida de palavra feminina.
A idéia é muito simples: o substantivo feminino é antecedido de um artigo feminino "a", que, ao encontrar-se com a preposição de mesma sonoridade, se funde a ela. Ao dizer: "Fulano, à tarde, caía fora", o sujeito do verbo é a pessoa que, no período da tarde, "caía fora" ou fugia de algum lugar (e não "a tarde" em si). Dizemos, então, que a expressão "à tarde" funciona como adjunto adverbial de tempo (é a resposta à pergunta "quando?").
Não é outro o motivo de as expressões denotadoras de horas serem craseadas. Pergunta-se: "Quando você virá?". Responde-se: "Virei às 10h". As indicações de horas sempre são antecedidas de artigo. Quando, entretanto, a intenção é exprimir uma quantidade de horas (e não a hora em si), não se usa o artigo. Assim: "Esperei-o durante duas horas", "Estarei lá daqui a duas horas".

Nenhum comentário:

Postar um comentário