segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crase não é acento, é convenção, logo não marca a tonicidade.

A crase é uma desgraça! Abaixo a crase! Serve pra quê? Ouvimos sempre essas reclamações dos alunos, porque ela incomoda mais que o elefante daquela musiquinha. Uma crase incomoda muita gente, duas crases...

Crase não é acento, é convenção, logo não marca a tonicidade. Os usuários (não do transporte coletivo, mas da língua) enfiam o acento grave conforme a eufonia. É forte, vai crase. Doce e grave engano.

O inusitado acontece por obra e graça de uma língua na qual a preposição e o artigo são idênticos: a. Daí à tragédia (com crase) é um passo. Os castelhanos perceberam o caos e se anteciparam: o artigo é la; e a preposição, a. Assim: Vamos a la casa de Maria é um enunciado claro, limpo, como a casa da própria.

Na outra ibérica língua, a de Fernando Pessoa, teríamos: Vamos aa casa de Maria. Quem daria crédito a esta grafia aa? Diriam tratar-se de coisa tipicamente lusitana. Bobagem reservada às (com crase) piadas.

De qualquer modo, experimente, heróico leitor dessa coluna, a pronúncia desses dois aas. Que tal? Não sentiu, por acaso, um bloqueio pulmonar? Logo, frisemos que o uso da crase é, antes de tudo, uma questão de saúde pública. Salvam-se os pulmões graças à (com crase) balsâmica crase.

Artifícios surgem como forma de evitar essa epidemia tão grave e aguda quanto a do Ebola. Troca-se a palavra à qual (com crase) a crase está ligada por uma masculina, surgindo ao, vai crase. Exemplo: Vai à praia. Vai ao litoral.

Adiante. Se a crase é a contração de a+a, ela poderá acontecer na frente de palavras femininas. Em Compro a crediário ou Compro a prazo temos o a como simples e inofensiva preposição, pois o artigo de prazo e de crediário é o. Pô!

Porém nada pode ser tão simples na vida do falante distraído da língua mãe de Bilac (cuidado! não disse falante da língua da mãe distraída do Bilac). Surgem, de inopino, não se sabe de onde, as locuções adverbiais femininas. Aqui não adiantam artifícios de troca por ao.
Surgem, de inopino, não se sabe de onde, as locuções adverbiais femininas. Aqui não adiantam artifícios de troca por ao. Exemplos: Dobrar à direita; Ricardão colocou as calças às pressas; Saiu às cegas catando o Ricardão; A mulher estava às apalpadelas com o Ricardão; Agarrou a colega à unha; Estava à toa na vida, quando o Ricardão chegou às escondidas.

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